terça-feira, 5 de julho de 2016

Preciso de um endocrinologista! Cadê?

Minha relação com a diabetes começou no dia 12 de maio de 2015, quando um clínico geral de uma Unidade Básica de Saúde em Caxias do Sul diagnosticou a doença. Já naquele dia saí do postinho com seringas e insulina para começar o tratamento. Também fui imediatamente encaminhado a um endocrinologista, para que um profissional especializado realizasse um acompanhamento mais adequado, bem como para que regulasse a quantidade de insulina a ser utilizada. 
Quem depende da rede pública de saúde sabe que conseguir consulta com especialista é quase como ganhar na loteria. Demora para conseguirmos, e quando se consegue nem sempre é da forma como gostaríamos. Em Caxias do Sul, especificamente, é muito difícil conseguir endocrinologista. Há poucos profissionais na cidade em comparação com a demanda. Mesmo quem tem plano de saúde encontra dificuldades. Quem depende do SUS geralmente é atendido por professores da universidade, juntamente com alunos em fase de especialização. Evidentemente que eles não conseguem atender a demanda completa de uma cidade de quase meio milhão de habitantes, sem contar que a finalidade do atendimento é acadêmica. Mas, para quem realmente não tem dinheiro, não há outro caminho, a não ser esperar, e esperar, e esperar...
Minha primeira espera durou seis meses, até não foi tão ruim assim. Nesse meio tempo, como minha diabetes estava em fase de lua de mel (na qual o corpo ainda produz insulina e não é necessário utilizar doses muito altas), não tive problemas. Fui atendido em outubro de 2015. Não seria mais necessário entrar na fila do município, pois a partir daquele momento seria mais fácil conseguir consultas. Logo, tive mais duas consultas com os professores e alunos de Endócrino da Universidade de Caxias do Sul. 
Há de se destacar que a Universidade disponibiliza atendimento gratuito pelo SUS em diversas especialidades. Pessoas de mais de quarenta municípios da região consultam no Ambulatório Central da UCS. É um privilégio ter esse serviço na minha cidade, sem contar que quase sempre fui muito bem atendido. Difícil mesmo é conseguir a consulta e esperar por ela no dia em que ela é marcada. Enfrentei um bom tempo de espera para a consulta, geralmente há muita gente no ambulatório e temos que esperar para sermos encaminhados. No caso, se perde praticamente a tarde toda em torno disso. Considerando o fato de eu estar desempregado, tudo bem. Afinal, se eu tivesse que pagar aquela consulta na rede particular, gastaria uma pequena fortuna. 
Minha última consulta foi em março de 2016. Nessa ocasião eu notei que a glicose tinha começado a subir, mas ainda bem lentamente. Na consulta, não me deram qualquer tipo de procedimento diferente em relação àquela alteração, informaram que estava tudo bem. Mas, na verdade, não estava. 
Duas semanas depois, minha glicose simplesmente disparou. Eu tava muito acostumado a mantê-la abaixo de 130, com média de 90! Do nada, ela passou para 250, 350, 350, 400... isso tudo sem mudança alguma de hábito. As hiperglicemias passaram a ser diárias e eu raramente pude voltar a ter uma vida normal. Corri marcar uma nova consulta, pois certamente minha lua de mel tinha acabado. Qual não foi minha decepção ao ficar sabendo que temos direito a consultas com endocrinologista por apenas seis meses! E é necessário entrar na "fila" do SUS outra vez para ter direito a novas consultas, com previsão de OITO MESES de espera. Obviamente, me senti muito azarado. Logo agora que minha glicose está irregular, estou sem a possibilidade de conversar com um endocrinologista. Como continuo desempregado, sigo sem possibilidades de marcar com um endócrino particular. 
Com essa situação, apesar de toda a tentativa de controle, os índices continuam altos. Perdi uns seis quilos por conta das hiperglicemias, tenho os sintomas clássicos de hiperglicemia, que se tornam ainda mais intensos por conta do estresse que a própria situação traz. Fica aquela sensação de impotência, aquele sentimento de estar desamparado e sem saída. Sem contar que o diabético tipo 1 já é naturalmente incompreendido e confundido com o diabético tipo 2. 
É assim que começo meu blog sobre diabético. Aqui pretendo escrever sobre as dificuldades e as lutas de um diabético do tipo 1 que não tem dinheiro para nada e como é difícil ser pobre e diabético. Evidentemente, espero que também haja boas histórias para contar. Não dá pra romantizar demais a diabetes. É uma droga ter que passar por isso. Por outro lado, nem por isso somos as pessoas mais azaradas do mundo. A bem da verdade, a diabetes está ali, todos os dias, obrigando você a ser saudável...